Faaaaaaaaaaala galera!
Infelizmente o cotidiano cego também é formado por fatos
lamentáveis e o blog, que como o nome já diz visa mostrá-lo, as vezes precisa
expor algum destes.
Sinceramente. Em países pouco desenvolvidos como o Brasil,
onde a desinformação com relação aos cegos e pessoas com alguma deficiência é
grande e por isso, até se esperaria uma atitude tão absurda, tal fato não
acontece.
Já fui em vários parques por aqui e nunca fui humilhado, nem
me senti constrangido como aconteceu com o amigo Lucas Radaelli lá na Alemanha.
Tomei a liberdade de copiar a postagem dele no Facebook,
porque ninguém melhor que ele próprio para contar o que aconteceu e o que
sentiu.
Segue abaixo e depois vão meus comentários.
Dá pra contar nos dedos os dias que eu fiquei tão triste e
puto quanto hoje. Fui com a Thaisa no Europapark, e ao chegarmos lá,
constatamos que eles não me deixavam ir em quase nenhum brinquedo. Todas as
montanhas russas. todos os brinquedos legais. Pra cada operador de brinquedo
que a gente perguntava, os quais mal alemão sabiam direito, porque a simples
pergunta: - Ok, mas porque eu não posso ir? - eles não sabiam responder.
Conversamos com o grupo de informações do parque que me disseram, que de fato, eu
não poderia ir em nenhuma montanha russa porque não enxergava. Eu acho que
nunca fiquei tão espantado e nunca me senti tão humilhado também. Lembro que só
questionava a mulher: - Ok, mas por quê? - E ninguém sabia a resposta, ela só
dizia que aparentemente estão seguindo alguma lei alemã que não permite que eu
ande nas montanhas russas.
Ok. Vamos com calma... Se eu estivesse tentando dirigir um
carro na estrada, obter o passe para uma arma de fogo, ou até mesmo pilotar
qualquer coisa no trem eu entenderia... mas nós estamos falando de uma FUCKING
MONTANHA RUSSA! - Que até onde eu me lembre, era sentar em um carrinho, fechar
o sinto de segurança, e ir.
Eu só me questiono, enquanto espumo aqui de raiva por essa
atitude cheia de preconceito, imbecil,
retardada e sem sentido, que maldita lei é essa, e que
diabos ela diz, porque eu realmente, eu não consigo imaginar nada,
absolutamente nada que poderia ser um problema para eu andar em uma ...
montanha russa!
A mulher continuava insistindo que era por motivos de
segurança. A coitada não deveria saber mais o que me dizer. Certamente não foi
ela quem criou essa lei babaca, e ela não poderia fazer nada também para me
ajudar, mas o suposto motivo de segurança, por ser o único que se encaixa na
situação, não satisfaz o que eu quero saber - Qual é o maldito problema?
Eu vou esfriar a cabeça e enviar um e-mail para esse parque
amanhã mesmo cobrando uma resposta razoável. Isso não pode ficar assim. E se
esse parque só estiver seguindo alguma lei alemã babaca, eu vou pensar em algo
para fazer. Não me lembro de ter tido um problema que fosse nas outras montanhas
russas que fui na vida... por que essa teria?
A vida é uma merda mesmo. A máxima nunca falha: Não tem nada
que esteja ruim que não possa piorar.
Como eu prometi, vão meus comentários.
Quando o preconceito ou discriminação ocorre fora do nosso
país, traz, junto da atitude humilhante e constrangedora, um agravante.
Quem leu atentamente a postagem do Lucas pôde perceber
claramente que ele ficou bem mais fragilizado do que se o fato ocorresse aqui.
Por que?
Porque como brasileiros, conhecemos as leis e com elas nossos
direitos e, embora a sensação de indignação, humilhação e constrangimento seja
a mesma, sabemos como nos defendermos nesses casos.
No entanto, o desconhecimento das leis locais, assim como a
falta de uma explicação plausível sobre o motivo de tal atitude, fez com que
não restasse para ele, outra alternativa senão a apatia diante da situação.
Quando li a postagem, várias coisas me passaram pela cabeça.
Como eu me sentiria no lugar dele?
Certamente, com vontade de voltar para o Brasil o quanto
antes.
Pior que a atitude discriminatória é não haver argumento
lógico e, a impotência com certeza me feriria profundamente.
A segunda questão seria o choque.
Sempre imaginamos os países europeus como mais desenvolvidos
que o Brasil e realmente deve dar uma decepção enorme, quando nos deparamos com
atitudes que nem aqui acontecem.
Na sequência, surgiu o seguinte questionamento?
Será que lá é como cá?
Aqui, tal situação caracterizaria discriminação. A pessoa
cega entraria com uma ação, muito provavelmente ganharia, já que a falta de uma
justificativa tornaria a ação quase ganha e, como punição, o parque seria
condenado a pagar uma indenização ao cidadão, como se o dinheiro pagasse a humilhação
e constrangimento sofridos por ele.
Olha gente. Existem até valores predefinidos.
Li uma notícia no jornal de uma cega em Brasília, que moveu
uma ação contra uma academia de ginástica e o motivo vocês já conhecem, pois
passei pela mesma situação e postei aqui.
Gente. A não aceitação de um cego numa academia ou,
imposição de condições absurdas para o fazer, custa 4000 reais.
Será que lá é como cá?
Os condenados por discriminação são obrigados a pagar um
valor o qual, dependendo do estabelecimento, equivale à dinheiro de pinga?
Já pensaram? Esse parque pelo jeito é grande.
Se estivessem no Brasil, dariam, por decisão judicial alguma
grana para o cego em questão e pronto. Já estão aptos a fazer a mesma coisa com
outro cego em uma ocasião futura.
Vamos combinar né?
Não sei como são calculados os valores de indenização. Mas
uma coisa posso afirmar com toda certeza: Para os grandes parques daqui, 4000
reais seria dinheiro de pinga.
Será que lá é como cá?
Na minha opinião, a punição mais sensata para um
estabelecimento que comete discriminação, tanto lá, como cá ou em qualquer
lugar, seria a suspensão de funcionamento.
Já pensaram? Um estabelecimento, independente do ramo de
atuação, ser condenado por discriminação e receber a pena de não poder
funcionar por 6 meses, ou quem sabe 1 ano?
Aí sim seria punição, acarretaria grande prejuízo. Como
seria lindo um grande estabelecimento virando notícia nacional, por fechar as
portas devido a uma punição por discriminação! Do jeito que está hoje, tudo
acontece sem divulgação, por baixo dos panos.
Já sei. Os grandes metidos a economistas e socialistas vão
dizer:
“E o desemprego que isso vai causar? Quantas pessoas estarão
na rua.”
Te respondo com uma frase:
Se eu trabalho num lugar onde sou orientado de alguma forma
a discriminar em determinadas situações e aceito, de certo modo, sou conivente.
Além do mais, não vejo outro caminho para que
estabelecimentos passem a pensar duas vezes antes de discriminar.
E o que dizer para o Lucas numa hora dessas?
Não sei direito. A única coisa que consigo pensar é:
Antigamente, nosso direito era apenas o de nascer.
Nas tribos mais primitivas, quando alguém nascia com alguma
deficiência, era sacrificada imediatamente.
Hoje, nos foi dado pelo menos o direito de lutar, questionar
e de tentar mostrar que nossa capacidade é superior à que nos atribuíam, mesmo
que a morte física sem defesa tenha sido substituída por situações como essa, que
trazem a degradação psicológica.
E já que hoje temos o direito de lutar, o jeito é nos
comportarmos como verdadeiros guerreiros Afinal, outro dia, li o seguinte:
“O verdadeiro guerreiro não é aquele que nunca cai e sim, o
que sabe levantar.”
Não lembro exatamente como estava escrito, mas a ideia é
essa.
Então é isso aí. Nos derrubam e levantamos. Nos derrubam e
levantamos.
E o mais importante: Não desista de procurar explicações e
atitudes.
A cada vez que ficamos calados, abrimos precedentes para que
a mesma situação ocorra com outras pessoas e, se você for como eu, se preocupa
bastante com esse lance de outras pessoas não passarem pelo que passou.
Então, é isso aí.
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