Faaaaaaaaaaaala galera!
Como começou 2014 para vocês?
Por aqui começou bem! Rs.
Hoje vou abordar um tema sobre o qual nunca ouvi ninguém falar.
Talvez, outros cegos não escrevem sobre isso, seja por não querer
mostrar uma realidade pela qual passaram e tem vergonha de assumir, ou
por achar que pouco importa.
Ta, André. e por que você resolveu falar?
Trauma? Não.
Simplesmente porque é algo que grande parte dos cegos já passou e
hoje, muitos passam, sem ter com quem conversar e suas famílias, tenho
certeza, sequer desconfiam do que passa na cabeça de um adolescente
que tem alguma deficiência.
A adolescência é uma fase onde a família deve estar atenta e o diálogo
é muito importante.
Até aí, não é novidade.
O problema é que a maioria das famílias não sabem que, para quem tem
alguma deficiência, os conflitos nessa fase vão um pouco além dos já
conhecidos pela maioria dos adolescentes.
Infância. Fase maravilhosa!
Tudo é perfeito.
As brincadeiras com as outras crianças, as bagunças planejadas
minuciosamente, os joelhos ralados com os tombos levados, as
comemorações com as vitórias no videogame, pipa, bola, em fim.
Tudo é maravilhoso. Tudo é normal.
Depois de alguns anos, vem a adolescência.
Os focos mudam. As paqueras, as festinhas, o som que se escuta, desejo
sexual, o primeiro beijo que as vezes acontece até mesmo no fim da
infância.
Aí você percebe que, nas festinhas, tudo acontece.
Comentários, as falas dos garotos com relação às meninas e das meninas
com relação aos meninos, os lances, o beijo, a pessoa e a percepção de
que contigo, nada acontece.
Primeira vez, segunda, terceira, quarta e depois de várias você começa
a fazer vários questionamentos.
Isso acontece por que? Será que eu sou feio? Será que eu sou chato?
Aliás o feio é a primeira coisa que passa pela cabeça.
Até que depois de muito tempo você chega à conclusão que não queria
chegar. É porque você é cego.
Infelizmente é uma dura realidade, vista com muito mais força nas meninas cegas.
Por que isso acontece?
além de todos os conflitos de adolescentes, a vergonha que os faz até
pedir para que os pais os deixem na esquina durante uma carona, tem
também a desinformação, que não passa de um círculo vicioso.
Não preciso repetir aqui a imagem que as pessoas tem de um cego.
Eu não preciso. Mas infelizmente, para o aumento da audiência de uma
novela, a Rede globo acha não só que precisa repetir, como torná-la
uma verdade absoluta.
Não assisto a novela amor À vida, mas já ouvi comentários sobre um
personagem que ficou cego e suas cenas esdrúxulas.
O cara ficou cego e não sabe quando é dia e quando é noite.
Depois, quase se afoga numa piscina porque sabia nadar quando
enxergava, mas esqueceu depois que ficou cego.
Por mais dificuldades de adaptação que uma pessoa tenha ao perder a
visão, calma aí! Não fica tão bitolada.
qual é a minha preocupação com o que uma novela passa?
simples: Essa tal novela tem uma abrangência que chega a milhões de
pessoas que, se já não tem uma imagem real do que é ser cego, estão
recebendo um reforço na informação errada.
Isso, prejudica o cego que busca qualificação profissional, o
adolescente cego que, se não discriminado por alguma paquerinha,
provavelmente vai ser pela família da pessoa, pelo simples fato de
pensar logo que a realidade vivida por aquela pessoa a qual seu filho
ou filha gosta é semelhante à vista na novela.
Realmente o autor ou tomou uma atitude impensada, ou não ta nem aí. O
que interessa é a audiência.
e para os adolescentes que passam por isso hoje, digo o seguinte:
Você não tem uma impressão errada.
É uma pessoa normal. Independente de outros acreditarem ou não, você é
uma pessoa normal.
Partindo desse princípio, lute com todas as forças pelo seu espaço e
por ser tratado como você é. Pessoa normal apesar de não enxergar, não
andar, não ouvir, etc..
Tem hora que é foda, eu sei.
Mas se acostume, pois até enquanto adulto essa luta vai precisar
continuar. É só o começo.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
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