O que você acha da minha ideia de indicar algum som que curto em cada postagem do Cotidiano Cego?

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

APANHADO GERAL SOBRE A SITUAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL.

Faaaaaaaaala galera!

como muitos já sabem hoje é o "Dia Internacional da Pessoa com Deficiência".

Coloquei entre aspas porque creio já terem lido uma postagem na qual
falo o que penso sobre isso.

Nesse texto, citarei bastante a situação do cego, pois é a que vivo diariamente.

Mas convido, não só os cegos, como as demais pessoas, tendo ou não
algum tipo de deficiência, a refletirem com tudo postado e opinar.

Pessoas com outras deficiências podem falar mais sobre suas realidades, em fim.

vou começar citando uma frase lida por mim no Twitter esses dias.

'Se vocês já estão de saco cheio em me ouvir falar de inclusão, saibam
que eu também já estou em falar, falar e nada acontecer."

Entendo a indignação do autor da frase.

No entanto, penso que devemos ter certos cuidados.

embora praticamente nada aconteça nesse sentido, por vezes vemos
iniciativas como a página Língua Portuguesa, em disponibilizar
descrição para as imagens utilizadas para facilitar a compreensão do
conteúdo do site, nos possibilitando estudar como qualquer pessoa que
o acesse.

sim. É uma atitude isolada.

Mas, quando dizemos que nada acontece no tocante à inclusão, pode dar
a impressão errônea de que ignoramos tais fatos.

Agora vou, mais uma vez, copiar descaradamente um texto do blog Outros
Olhares. Rs.

calma! É brincadeira. A Lúcia sabe que as vezes eu copio alguns
textos, o faço com autorização dela e esse, como ela mesma mandou
divulgar, acabei não pedindo, mas, em fim.

O texto se chama "CEGOS SUJOS, FEIOS E MALVADOS.

Aliás gente, recomendo a leitura de outras postagens lá existentes.

segue o link original para o texto colado abaixo:

http://outrosolhares.blog.terra.com.br/2013/11/23/cegos-feios-sujos-e-malvados/

CEGOS SUJOS, FEIOS E MALVADOS.

O desabafo vem do Vanderlei, 59 anos, morador de uma cidadezinha de
Minas Gerais e cego há quase vinte anos depois de um grave acidente de
trabalho como mergulhador em uma plataforma de petróleo: "*Quando
fiquei cego, a dor de não enxergar foi menor do que a dor de ser
banido, excluído da sociedade. Perdi tudo: mulher, amigos, emprego. O
mundo deixou de ser um bom lugar para mim. Virei alguém menor e
descartável. Não era mais considerado igual aos outros. Briguei
sozinho e durante muito tempo por direitos básicos para no final
conseguir apenas ser chamado de radical, chato, mala e xiita. Ainda
assim, tenho orgulho de minha única vitória: o legado que deixei a
minha filha, hoje uma grande lutadora pela acessibilidade*".
Entre o bom humor e a melancolia, o Vanderlei desfia histórias de
discriminação e humilhações semelhantes às de milhares de cegos, com a
diferença de não deixar barato nunca: "*Quase fui preso uma vez por
avançar em um safado de um vereador! Mas depois de tantos anos
tentando ser ouvido, tentando mudar as coisas, quem é que não perde a
paciência? Vou te dizer uma coisa, se eu fosse mais jovem, ia até São
Paulo e ficava pelado ao meio-dia de uma sexta-feira em frente ao
MASP, na avenida Paulista, que hoje em dia é assim que se chama a
atenção. Não tem aquelas meninas lindas do FEMEN? Mostram os peitos e
na hora viram manchete no mundo inteiro. Então, o ceguinho pelado pode
não ser um espetáculo tão bonito, mas que eu ia falar no Jô, na
Marília Gabriela e no Fantástico, ah, isso eu ia!*".
O relato do Vanderlei ilustra bem o que vemos diariamente: de um lado,
a omissão do poder público, o descaso da sociedade e o inexplicável
silêncio e os braços cruzados dos cegos diante de históricos abusos e
desrespeito; de outro, a luta árdua de no máximo meia dúzia de
gatos-pingados, os radicais e xiitas, assim chamados porque denunciam
a violação de seus direitos fundamentais com todas as letras e sem
concessões. Já são muito poucos e a forma com que lutam, com
contundentes opiniões e cobranças, acentua ainda mais o contraste.
Postura comum e muito melhor compreendida quando vem de videntes
reivindicando ou denunciando alguma coisa; de emails, artigos,
entrevistas inflamadas, concentrações e passeatas nas ruas até
invasões de órgãos públicos e barreiras de fogo bloqueando estradas,
fazem com que as manifestações destes cegos pareçam amenas conversas
ao redor de uma mesa de chá às cinco da tarde.
Fora que a luta de videntes encontra muitos e variados espaços de
discussão em todo o país, o que também não acontece quando o assunto é
deficiência e muito menos quando é a visual. No caso dos cegos
chamados de radicais e xiitas, é só chegar mais perto, ouvi-los,
acompanhar suas discussões em fóruns virtuais para constatar o que
realmente importa: sua luta é justa, legítima, limpa – frequentemente
e muito convenientemente ignorada, mas raramente contestada.
Só para citar uma discussão recente, como aceitar calados o não
cumprimento da lei federal do ano 2000 que prevê a instalação de
semáforos sonoros nas cidades brasileiras, dispositivos básicos, de
fundamental importância para quem é cego? São Paulo só tem dois! Vale
a pena destacar um trecho de entrevista concedida a este blog pelo
jornalista e radialista carioca Marcus Aurélio de Carvalho, baixa
visão, com quase trinta anos de carreira em rádios, até o ano passado
gerente executivo da Rádio Globo São Paulo e afiliadas: "*…Pode
perceber como semáforos sonoros neste país só existem em frente a
instituições para cegos. A mensagem clara é: pode ir estudar! Vai
entrar pela porta do ônibus que não paga, chegar com segurança, ficar
só com quem é parecido com você e depois voltar para casa! E se o cego
se apaixonar e quiser ir a um motel? Ah, aí não dá, porque lá não tem
semáforo com sinal sonoro (risos)… E se quiser tomar um chopp? A mesma
coisa, só vai se for levado por alguém que enxerga*".
Será que os cegos sentem-se satisfeitos, respeitados e atendidos na
defesa de seus direitos por  secretarias de governo e organizações
criadas para representá-los? Ou parecem mal saber para que servem?
Existem eficientes políticas públicas para a acessibilidade da pessoa
com deficiência visual? Há punição para o descumprimento de leis? Será
que estão contentes com a altíssima tributação sobre a tecnologia
assistiva? Compram seus livros acessíveis das editoras ou pegam
emprestados das bibliotecas públicas, como fazem os videntes que não
têm dinheiro para comprá-los? A resposta é, invariavelmente, não.
Enquanto isso, assistimos este ano à choradeira emocionada por conta
de um tratado internacional que facilitaria o acesso dos cegos aos
livros, notícia reproduzida e comemorada sem que ninguém soubesse o
que era - aliás, até hoje não foi divulgada uma única linha informando
com clareza  o conteúdo do acordo! E foi cego chorando no twitter, o
cantor e compositor Stevie Wonder chorando em cima de um palco, toda
uma comoção  pelo que já era esperado: o fortalecimento ainda maior do
monopólio das instituições para cegos sobre o livro acessível. Isso,
sim, é de chorar! E, para citar mais um episódio recente, o veto à
ampliação da audiodescrição na televisão brasileira, que nem com reza
brava sai de algumas míseras horinhas semanais de programação nas
emissoras abertas, justamente na TV, a principal forma de lazer do
brasileiro e, portanto, o veículo que permitiria o acesso muito maior
da maioria dos cegos do país à informação, à cultura, à diversão.
Um amigo cego diz que a última grande revolução na vida de quem tem
deficiência visual chama-se leitor de tela e não teve nenhum dedo do
governo ou de qualquer instituição assistencialista. Com exceção da
Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, não
temos muito o que comemorar em conquistas significativas no presente,
daí, então, a exaltação contínua ao passado de vitórias que, embora
louváveis e de extrema importância, principalmente pela união e garra
nunca mais vistas, foram um primeiro passo. Na falta de bons projetos,
eis que governantes vão ainda mais longe no tempo e dizem à exaustão
em palestras que "*avançamos muito, porque até pouco tempo atrás as
pessoas com deficiência eram atiradas em rios, poços ou precipícios*".
Ou esta, totalmente vaga e também repetida feito um mantra: "*Aos
poucos, vamos conquistando o que é preciso.*" Os cegos radicais e
xiitas assim são chamados porque vão muito além das belas frases e
mensagens de otimismo e esperança, inconsistentes e tolas quando
desacompanhadas de ações efetivas e por estas, sim, são eles os únicos
a lutar.

Entendo claramente toda a indignação do Vanderlei.

Faço parte dessa meia dúzia e até mesmo aqui no blog já fui chamado de
xiita, reclamão e mais outros adjetivos.

a questão dos semáforos sonoros não é cumprida em lugar nenhum.

Não fosse a solidariedade do povo brasileiro, a nossa locomoção para
trabalho, faculdade e até mesmo para tomar um chopp seria impossível
se não houvesse em cada esquina, alguém que nos ajudasse a atravessar
as ruas. coisa que seria muito diferente se a lei que determina a
instalação dos semáforos sonoros fosse devidamente cumprida.

Se sair do trabalho mais tarde ou resolver fazer um Happy Hour, se não
houver ninguém no ponto de ônibus preciso dar sinal para todos que
passam e perguntar qual é.

Olha que tecnologias para nos ajudar nisso já existem até mesmo aqui no Brasil.

Se não me engano uma destas estava para ser ou foi testada em são Carlos.

E com isso eu só to falando nas questões ligadas à locomoção.

Ainda tem algumas com relação ao mercado de trabalho, à educação,
etc., que se eu fosse citar aqui, ficaria até amanhã escrevendo essa
postagem.

Para finalizar, vou citar um texto escrito por Romário.

Num texto sobre a data de hoje, ele disse o seguinte:

"Ao longo destes 15 anos, já avançamos muito. Hoje, os deficientes são
vistos pela sociedade como pessoas com necessidades especiais que
devem ser atendidas pelo Estado. Só esta mudança de mentalidade, da
pessoa com deficiência não mais ser vista como inválida, e sim como
uma pessoa que pode participar plenamente da sociedade, já é um grande
avanço", observa Romário."

Onde isso, Romário?

Ta certo que hoje raramente entro num estabelecimento comercial e a
galera acha que estou lá para pedir algo.

Já foi um avanço. Mas, daí a sociedade não considerar mais a pessoa
com deficiência como inválido e sim como alguém que participa
ativamente da sociedade.....

sim. talvez por isso, a academia club 109 não me aceitou sem a
presença de um Personal Trainer.

Por isso então, alguns garçons em restaurantes, quando estamos
acompanhados de alguém sem nenhuma deficiência, ao perguntarem se
queremos algo se dirigem a elas e não a nós.

e também por isso, quando andamos nas ruas, algumas pessoas nos
abordam, de uma forma levada pela verdade absoluta de que caminhamos e
sequer sabemos onde estamos.

talvez, ainda por esse avanço e terem a certeza citada por você, não
raro se admiram quando contamos que trabalhamos, falamos sobre nossa
profissão e estudo.

quando tentamos atravessar uma rua, alguém tenta nos puxar pelo braço
e com isso paramos e tentamos orientar, explicando a forma correta de
auxílio, ou seja: A pessoa parar na nossa frente e deixar que nós
seguremos no braço dela, muitas se ofendem. Afinal, ela queria ajudar,
ela sabe o que fazer e você, cego revoltado, sem noção de nada, está
contestando a excelente ajuda proposta por ela.

aí você vem me dizer:
"Hoje, os deficientes são vistos pela sociedade como pessoas com
necessidades especiais que devem ser atendidas pelo Estado. Só esta
mudança de mentalidade, da pessoa com deficiência não mais ser vista
como inválida, e sim como uma pessoa que pode participar plenamente da
sociedade, já é um grande avanço", observa Romário."

Romário. Me responde uma coisa.

Você está morando em qual país atualmente?

talvez na Espanha seja assim.

Afinal, pelo menos, semáforos sonoros não faltam lá.

Mas agora, tu já não joga mais no Barcelona e voltou para o Brasil.
Não te avisaram?

eu te proponho um desafio.

Acompanhe o cotidiano de alguém com deficiência durante um dia e veja
se as pessoas realmente tem essa mentalidade citada em seu texto.

Faça isso primeiro, com uma pessoa que tenha deficiência física.

depois, faça o mesmo com alguém cuja a deficiência seja intelectual.

Vai ver claramente que no segundo caso, a coisa ainda é pior.

Agora, tem uma coisa a qual concordo contigo.:

"O parlamentar, que é reconhecido pela sua luta em defesa das pessoas
com deficiência, avalia, no entanto, que muitas mudanças ainda devem
ser concretizadas pela sociedade, como mais acessibilidade em locais
públicos e privados, inclusão escolar e no mercado de trabalho."

Aí sim. Está coberto de razão.

só espero que, quando fala em locais públicos, esteja incluindo as ruas.

No meu trajeto diário, passo sem dificuldades por determinados
lugares, pelos quais cadeirantes não conseguiriam com a mesma
desenvoltura.

O inverso, pode também ocorrer.

Aliás, falando em cadeirantes, grandes cidades como Rio e São Paulo
não tem uma quantidade sequer aceitável de ônibus que os atenda.
Quando eu falo em atender, me refiro à veículos possibilitadores de um
embarque sem oferecer qualquer constrangimento a eles.

Espero, sinceramente, que esteja se referindo a tudo isso.

E assim termina todo esse apanhado.

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