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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

EDUCAÇÃO INCLUSIVA? ONDE?

Faaaaaaaaala Galera!

 

A postagem de hoje vem divulgar um texto da minha amiga Luciane Maria Molina Barbosa.

 

Olha... Eu copiei a postagem dela no facebook, o texto não veio muito arrumado porque meu navegador bagunçou.

 

Eu tentei arrumar, mas alguma coisa pode ter passado batido. Afinal, eu não vi. Kkkkkk.

 

Mas antes do texto dela, quero informar sobre o programa Zoeira Total.

 

Como sábado o software de automação de rádio e a placa de som virtual não me zoaram, o programa rolou numa boa. Rs.

 

Segue o link para quem não pôde ouvir no sábado.

 

https://soundcloud.com/andr-lu-s-de-assis/zoeira-total-01programa-zoeira

 

Feedbacks sobre o que acharam e sugestões são sempre bem vindas.

 

Já chegou uma aqui para mudar o horário da transmissão/gravação do programa, para quinta à noite.

 

Vou analisar com carinho.

 

O que acham? Rs.

 

Agora sim, segue o texto da Braillu.

 

 

 

LEIAM ATÉ O FIM. MEU DESABAFO SOBRE UMA SITUAÇÃO DE "EXCLUSÃO" QUE VIVI HOJE DURANTE O PROCESSO SELETIVO DE PROFESSORES DO ESTADO DE SP.

 Enquanto o Brasil se esforça pra "pregar" ideologias "baratas" de inclusão das pessoas com deficiência em todos os espaços, nós, com deficiência visual, ainda hoje continuamos a viver num "estado" de direito sem leis e com muitas barreiras impostas por aqueles que, diante de sua soberania, fingem praticar a mais nobre das atividades: a solidariedade e o respeito com as diferenças.

Chego indignada, quase que revoltada, com o que acabo de vivenciar no Processo Seletivo para Atribuição de classes e aulas 2014 da Secretaria de Estado da Educação, cuja prova foi organizada e aplicada pela FUNDAÇÃO VUNESP. Conheço muito bem a política dessa empresa, tanto porque em ocasiões anteriores já cheguei a solicitar provas em Braille que não vieram e tiveram que designar "qualquer" pessoa para assumir a função de ledor, sem qualquer preparo. Pois bem... Diante desses conflitos constantes, passei então a solicitar provas com auxílio de ledores, que são pessoas designadas especialmente para assumir a função de ler a prova EM VOZ ALTA e, ainda sem que se tenha o preparo suficiente, pelo menos são avisadas e informadas que assumirão essa função durante a aplicação do concurso público. E foi justamente essa a solicitação que fiz para a FUNDAÇÃO VUNESP ao me inscrever nesse processo seletivo. Cumpri todas as exigências que cabiam a mim, inclusive de entregar, na data determinada, um laudo médico contendo o CID da minha deficiência. Ora, se pedem tal documento, deveriam pelo menos saber interpretá-lo corretamente, já que sou cega e isso está descrito no laudo/atestado médico, ou será que pensam que eu estou brincando de não querer enxergar? Se bem que, nesse caso era bom mesmo nem ver certos acontecimentos...

Estudei para a prova, me preparei como qualquer candidato, mesmo tendo que fazer um esforço quase que sobrenatural para conseguir as obras da bibliografia básica disponíveis em formato acessível. Tenham a certeza que estudar para um concurso público não é tão símples assim, pois além de ler, entender, anotar e compreender todos aqueles conceitos e conteúdos, temos que antes disso adaptar as obras para nossa necessidade, tais como digitalizá-las, corrigí-las ou solicitá-las em alguma instituição que forneça livro falado ou livro em Braille e isso demanda tempo e desgaste físico e mental. Afinal já deve ser do conhecimento da maioria das pessoas, que não temos a disponibilidade de entrar numa livraria e adquirir um livro no formato acessível para nós, como qualquer pessoa faria em condições normais.

Feliz de que toda a etapa pré-avaliativa tinha sido superada e de posse de todo conhecimento necessário para participar desse processo seletivo, entrei enfim para responder as 80 questões que me eram designadas, numa folha completamente lisa para mim, porém que tomaria seu formato e seu significado através dos olhos daquela que foi designada minha "ledora" para esse momento. Chego na sala e fui muito bem recebida pela ledora, a mesma do ano anterior, que relatou ter escolhido essa função porque gostou bastante de ter podido contribuir com o seu trabalho. Senti que ela estava bastante feliz ali, nessa função tão necessária para nós, e eu também estava contente pela alegria dela, pois ela faria o possível para que a prova transcorresse bem.

Cabe destacar que a minha formação é em pedagogia e em deficiência visual, mesma disciplina que escolhi atuar e, portanto, minha prova versava sobre questões gerais da educação no Estado de São Paulo, legislação geral e específica na área da inclusão e parte específica relacionada à deficiência visual. A parte específica, ao meu ver, é a única parte capaz de avaliar os conhecimentos desse profissional em sua atuação, caso contrário nem seria necessário diferenciar as áreas de atuação. Passamos bem pelas duas primeiras partes da prova, ou seja, os dois terços iniciais. Quando chegamos na parte específica, justamente a parte que me avaliaria para a atuação em Deficiência visual e cujo teor faz parte, obrigatoriamente, da minha formação específica, eu simplesmente fui ignorada pelos organizadores dessa "aberração" de prova.

Eu, uma profissional braillista, ligada diretamente a formação de professores e ao ensino do Braille, usuária desse sistema de leitura tátil e escrita, simplesmente fui impedida de resolver quase que 1 décimo da prova por pura "incompetência" da FUNDAÇÃO VUNESP que apresentou algumas questões em formato de imagem, como é o caso da foto de um texto em Braille para que a gente descobrisse o que estaria escrito e cujas 5 alternativas eram resultado dessa transcrição. Outra questão baseava-se na foto de um soroban para que descobríssemos qual era a operação realizada ali. Outra, ainda, imagens de pessoas guiando cegos, imagens de aparelhos diversos, e mais imagens de Braille. Isso tudo para medir um conhecimento superficial, mas de maneira muito desigual entre quem enxerga e quem não enxerga. Pra completar, a ledora, que ficou bastante constrangida, tentava descrever e apontar algumas letras em Braille que estavam estampadas na minha camiseta. Sem sucesso, pois jamais tinha entrado em contato com tal código e não havia recebido formação nem para ler textos em Braille, nem para demonstrar operações em soroban e, muito menos, para descrever outras imagens contidas na prova. Fiquei bastante sensibilizada com o constrangimento dela, diante daquilo que não conseguia descrever. Mais dois coordenadores foram chamados e, numa tentativa frustrada, perceberam que sem preparo e sem nenhuma adequação era mesmo impossível prosseguir. eles também tentaram e eu, quase num desespero contido, busquei ensiná-los, no improviso, o que era Braille e como as letras eram formadas e como fazemos pra registrar números no soroban. Não deu...E agora como eu fico? Fui visivelmente prejudicada por não ter tido tratamento igualitário para a realização da prova. Pela FUNDAÇÃO VUNESP não respeitar os meus direitos de acesso à informação, mesmo eu tido comprovada minha deficiência visual. Queria, de verdade, saber, se basta apenas copiar de uma Convenção da ONU que os Princípios que alicerçam os direitos da pessoa com deficiência são justamente o do desenho universal e o da não discriminação, para cobrar em uma de suas questões dessa prova. Será que basta saber assinalar uma alternativa correta, reforçando a não discriminação e, na prática, discriminar tanto assim? Se essa avaliação fosse medir o grau de inclusão pra se trabalhar com educação inclusiva, realmente vocês teriam nota 0. Quero aqui deixar o meu protesto, quero aqui pedir providências urgentes, inclusive, quero meu direito de responder dignamente as 80 questões dessa prova, com respeito. A contradição que vemos é justamente do processo seletivo ser destinado à atuação com pessoas com deficiência e a própria pessoa com deficiência ter seus direitos tolhidos. De que educação inclusiva o Estado fala? Qual é essa educação inclusiva que o Estado tanto prega se depois de formados, esses alunos, futuros profissionais, terão tantas ou mais dificuldades do que eu tive hoje ao realizar essa "simples" prova.

Onde fica a capacitação desses fiscais, que vão com a cara e a coragem, e muita boa vontade, mas sem lhes oferecer o suporte adequado?

Mostra pra gente São Paulo, na prática, que inclusão vocês querem prevalecer? Mostra pra gente que não somos tolos em pensar que esse foi mais um dentre tantos equívocos que tenho presenciado na luta por uma educação inclusiva de qualidade?

Querem nos avaliar sem quaisquer critérios de inclusão, quantificando nosso saber e desqualificando nossa formação e nosso conhecimento. Queremos deixar de ser invisíveis como essas fotografias foram pra mim hoje, nessa prova. Queremos mais cidadania, menos barreiras e mais dignidade!

Solicito, urgente, providências para que eu tenha o meu DIREITO de responder todas as 80 questões dessa prova. Ou será que esse processo seletivo quer mesmo deixar pra fora as pessoas com deficiência visual?

Não vou permitir que mais essa "injustiça" seja considerada apenas um "mal entendido", vou lutar até o fim!!!VAMOS FUNDAÇÃO VUNESP, VAMOS SÃO PAULO MOSTRAR A VERDADEIRA INCLUSÃO NA PRÁTICA OU ESTÁ TÃO DIFÍCIL ASSIM ASSUMIR QUE SOMOS CIDADÃOS?

Luciane Maria Molina Barbosa

Pessoa com deficiência visual;

 pedagoga com especialização em atendimento Educacional Especializado (UNESP - Marília), vencedora do IV Prêmio Sentidos para pessoa com deficiência.

braillu@gmail.com

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