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sexta-feira, 31 de março de 2017

adultos sabem o que estão fazendo. crianças não. Será?

Faaaaaaaaala galera!
Nessa postagem, pretendo mostrar comportamentos diferentes entre crianças e adultos, no tocante à ajuda.
desci do metrô um dia desses e resolvi comer uma tapioca na banquinha ali próxima, antes de trabalhar.
a senhora que ali fica, levou a afilhada, que deveria ter uns 9 anos.
quando eu cheguei, a menina logo perguntou como eu queria o café e em seguida, entregou na minha mão.
até aí, nada de excepcional. Afinal de contas, por outras vezes já havia comido tapioca ali e muito provavelmente a senhora poderia ter explicado, pensei eu.
a menina era bastante inteligente.
quando eu terminei meu café e vinha para o trabalho, ao começar a andar, a menina veio em minha direção e me guiou para o piso tátil.
Fiquei surpreso. Essa menina tinha um domínio de como lidar com cego que muitos adultos não tem.
O segundo caso, se deu quando voltava para casa.

Em parte do trajeto tem uma praça e uma escola.
Não raro, encontramos crianças na mureta que costumo usar como referência, brincando e conversando na calçada, entre outras coisas.
Certo dia, fui abordado e umas dessas crianças seguraram minha bengala e me puxaram por ela.
agradeci a ajuda, mas pedi que não me puxassem mais pela bengala, pois isso me atrapalhava porque eu não tinha como encostar ela no chão e não dava pra sentir a calçada e os obstáculos.
depois desse dia, as crianças, sempre que necessário, por conta delas estarem no caminho ou haverem obstáculos, continuaram me ajudando, mas não me puxaram mais pela bengala.

comportamento de adulto:
você anda, a pessoa te puxa pela bengala ou pelo braço e se você falar alguma coisa, é ingrato, metido e tudo mais, porque afinal de contas, ela está te ajudando.
de repente, eu posso estar sendo incompreensivo mesmo. vendo, por outro ângulo, se a pessoa me puxa pela bengala, não tenho como colocar ela no chão e tiver um buraco na frente, essa pessoa vai estar me ajudando a cair no buraco. Não deixa de ser uma ajuda. afinal, eu não teria coragem de fazer isso expontaneamente. se no lugar do buraco estiver um poste, eu não vou querer bater com a cara nele por livre e expontânea vontade. Só farei isso mesmo com a ajuda de alguém. kkkkkk.
A minha crítica ao comportamento adulto, assim como a comparação com o comportamento infantil, não se dá pela questão saber ou não saber como lidar com cego. aliás, esse não é o maior problema.
O preocupante no comportamento adulto descrito, está longe do não saber como lidar com cego, mas o da pessoa ter a certeza de que está ajudando, mesmo quando mostramos o contrário.
Esse é um erro que cometemos muitas vezes sem perceber.
A criança, talvez pela sua própria condição, tem o hábito de ouvir os adultos.
Nós, quando nos tornamos adultos, perdemos a capacidade de ouvir uns aos outros e nos posicionamos como seres que sempre sabem o que estão fazendo.
se a gente conseguisse manter essa atitude das crianças, mesmo enquanto adultos, acho que muitos aspectos do mundo seriam diferentes.

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