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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Preconceito E discriminação; A Gente Não Vê só Por Aqui



Faaaaaaaaaaala galera!

Infelizmente o cotidiano cego também é formado por fatos lamentáveis e o blog, que como o nome já diz visa mostrá-lo, as vezes precisa expor algum destes.

Sinceramente. Em países pouco desenvolvidos como o Brasil, onde a desinformação com relação aos cegos e pessoas com alguma deficiência é grande e por isso, até se esperaria uma atitude tão absurda, tal fato não acontece.

Já fui em vários parques por aqui e nunca fui humilhado, nem me senti constrangido como aconteceu com o amigo Lucas Radaelli lá na Alemanha.

Tomei a liberdade de copiar a postagem dele no Facebook, porque ninguém melhor que ele próprio para contar o que aconteceu e o que sentiu.

Segue abaixo e depois vão meus comentários.

Dá pra contar nos dedos os dias que eu fiquei tão triste e puto quanto hoje. Fui com a Thaisa no Europapark, e ao chegarmos lá, constatamos que eles não me deixavam ir em quase nenhum brinquedo. Todas as montanhas russas. todos os brinquedos legais. Pra cada operador de brinquedo que a gente perguntava, os quais mal alemão sabiam direito, porque a simples pergunta: - Ok, mas porque eu não posso ir? - eles não sabiam responder. Conversamos com o grupo de informações do parque que me disseram, que de fato, eu não poderia ir em nenhuma montanha russa porque não enxergava. Eu acho que nunca fiquei tão espantado e nunca me senti tão humilhado também. Lembro que só questionava a mulher: - Ok, mas por quê? - E ninguém sabia a resposta, ela só dizia que aparentemente estão seguindo alguma lei alemã que não permite que eu ande nas montanhas russas.
Ok. Vamos com calma... Se eu estivesse tentando dirigir um carro na estrada, obter o passe para uma arma de fogo, ou até mesmo pilotar qualquer coisa no trem eu entenderia... mas nós estamos falando de uma FUCKING MONTANHA RUSSA! - Que até onde eu me lembre, era sentar em um carrinho, fechar o sinto de segurança, e ir.
Eu só me questiono, enquanto espumo aqui de raiva por essa atitude cheia de preconceito, imbecil,
retardada e sem sentido, que maldita lei é essa, e que diabos ela diz, porque eu realmente, eu não consigo imaginar nada, absolutamente nada que poderia ser um problema para eu andar em uma ... montanha russa!
A mulher continuava insistindo que era por motivos de segurança. A coitada não deveria saber mais o que me dizer. Certamente não foi ela quem criou essa lei babaca, e ela não poderia fazer nada também para me ajudar, mas o suposto motivo de segurança, por ser o único que se encaixa na situação, não satisfaz o que eu quero saber - Qual é o maldito problema?
Eu vou esfriar a cabeça e enviar um e-mail para esse parque amanhã mesmo cobrando uma resposta razoável. Isso não pode ficar assim. E se esse parque só estiver seguindo alguma lei alemã babaca, eu vou pensar em algo para fazer. Não me lembro de ter tido um problema que fosse nas outras montanhas russas que fui na vida... por que essa teria?
A vida é uma merda mesmo. A máxima nunca falha: Não tem nada que esteja ruim que não possa piorar.

Como eu prometi, vão meus comentários.

Quando o preconceito ou discriminação ocorre fora do nosso país, traz, junto da atitude humilhante e constrangedora, um agravante.

Quem leu atentamente a postagem do Lucas pôde perceber claramente que ele ficou bem mais fragilizado do que se o fato ocorresse aqui. Por que?

Porque como brasileiros, conhecemos as leis e com elas nossos direitos e, embora a sensação de indignação, humilhação e constrangimento seja a mesma, sabemos como nos defendermos nesses casos.

No entanto, o desconhecimento das leis locais, assim como a falta de uma explicação plausível sobre o motivo de tal atitude, fez com que não restasse para ele, outra alternativa senão a apatia diante da situação.

Quando li a postagem, várias coisas me passaram pela cabeça.

Como eu me sentiria no lugar dele?

Certamente, com vontade de voltar para o Brasil o quanto antes.

Pior que a atitude discriminatória é não haver argumento lógico e, a impotência com certeza me feriria profundamente.

A segunda questão seria o choque.

Sempre imaginamos os países europeus como mais desenvolvidos que o Brasil e realmente deve dar uma decepção enorme, quando nos deparamos com atitudes que nem aqui acontecem.

Na sequência, surgiu o seguinte questionamento?

Será que lá é como cá?

Aqui, tal situação caracterizaria discriminação. A pessoa cega entraria com uma ação, muito provavelmente ganharia, já que a falta de uma justificativa tornaria a ação quase ganha e, como punição, o parque seria condenado a pagar uma indenização ao cidadão, como se o dinheiro pagasse a humilhação e constrangimento sofridos por ele.

Olha gente. Existem até valores predefinidos.

Li uma notícia no jornal de uma cega em Brasília, que moveu uma ação contra uma academia de ginástica e o motivo vocês já conhecem, pois passei pela mesma situação e postei aqui.

Gente. A não aceitação de um cego numa academia ou, imposição de condições absurdas para o fazer, custa 4000 reais.

Será que lá é como cá?

Os condenados por discriminação são obrigados a pagar um valor o qual, dependendo do estabelecimento, equivale à dinheiro de pinga?

Já pensaram? Esse parque pelo jeito é grande.

Se estivessem no Brasil, dariam, por decisão judicial alguma grana para o cego em questão e pronto. Já estão aptos a fazer a mesma coisa com outro cego em uma ocasião futura.

Vamos combinar né?

Não sei como são calculados os valores de indenização. Mas uma coisa posso afirmar com toda certeza: Para os grandes parques daqui, 4000 reais seria dinheiro de pinga.

Será que lá é como cá?

Na minha opinião, a punição mais sensata para um estabelecimento que comete discriminação, tanto lá, como cá ou em qualquer lugar, seria a suspensão de funcionamento.

Já pensaram? Um estabelecimento, independente do ramo de atuação, ser condenado por discriminação e receber a pena de não poder funcionar por 6 meses, ou quem sabe 1 ano?

Aí sim seria punição, acarretaria grande prejuízo. Como seria lindo um grande estabelecimento virando notícia nacional, por fechar as portas devido a uma punição por discriminação! Do jeito que está hoje, tudo acontece sem divulgação, por baixo dos panos.

Já sei. Os grandes metidos a economistas e socialistas vão dizer:

“E o desemprego que isso vai causar? Quantas pessoas estarão na rua.”

Te respondo com uma frase:

Se eu trabalho num lugar onde sou orientado de alguma forma a discriminar em determinadas situações e aceito, de certo modo, sou conivente.

Além do mais, não vejo outro caminho para que estabelecimentos passem a pensar duas vezes antes de discriminar.

E o que dizer para o Lucas numa hora dessas?

Não sei direito. A única coisa que consigo pensar é:

Antigamente, nosso direito era apenas o de nascer.

Nas tribos mais primitivas, quando alguém nascia com alguma deficiência, era sacrificada imediatamente.

Hoje, nos foi dado pelo menos o direito de lutar, questionar e de tentar mostrar que nossa capacidade é superior à que nos atribuíam, mesmo que a morte física sem defesa tenha sido substituída por situações como essa, que trazem a degradação psicológica.

E já que hoje temos o direito de lutar, o jeito é nos comportarmos como verdadeiros guerreiros Afinal, outro dia, li o seguinte:

“O verdadeiro guerreiro não é aquele que nunca cai e sim, o que sabe levantar.”

Não lembro exatamente como estava escrito, mas a ideia é essa.

Então é isso aí. Nos derrubam e levantamos. Nos derrubam e levantamos.

E o mais importante: Não desista de procurar explicações e atitudes.

A cada vez que ficamos calados, abrimos precedentes para que a mesma situação ocorra com outras pessoas e, se você for como eu, se preocupa bastante com esse lance de outras pessoas não passarem pelo que passou.

Então, é isso aí.

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