O que você acha da minha ideia de indicar algum som que curto em cada postagem do Cotidiano Cego?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

brasil. O país caranguejo no que diz respeito a inclusão



Faaaaaaaaala galera!

Um hábito que tenho quando surge um tempinho livre no meu dia, é ler as notícias.

Sempre bom saber o que acontece no mundo, né?

Sei lá.

Durante poucos minutos que tive ontem para fazê-lo, depois de encontrar várias desgraças, pude saber que o presidente Hugo Chavez está melhorando.

Uma notícia agradável em meio a tanta desgraça.

Porém, logo depois, mais desânimo:

Uma notícia do G1 diz que agora haverá reserva de vagas para deficientes e idosos na aquisição de casas populares em Santos.

Gente. É isso aí. 7% das moradias populares serão destinadas à deficientes e idosos.

Mais uma lei de cotas.

Antes de eu ter que repetir tudo que eu já penso sobre lei de cotas, coisa que sinceramente estou com preguiça de fazer novamente, vos convido a pensar na seguinte situação:

Imaginem uma família desabrigada, ou residindo em local insalubre, que, pelos critérios estabelecidos, é candidata a uma moradia popular.

No entanto, existem mais dois candidatos. Um idoso e uma pessoa com deficiência, e a moradia disponível no momento seria uma das reservadas.

As pessoas aptas à tal reserva, embora não tenham ainda moradia, não estejam no momento nessa situação deplorável. Ou por estarem na casa de parentes, ou de favor, etc.

Seria realmente justo uma dessas pessoas passarem à frente da família desabrigada ou em risco por causa da tal reserva?

Não acho absurdo meu questionamento porque, segundo o texto da reportagem do G1, em somente no caso de não haver candidatos com deficiência ou idosos é que moradias desta reserva seriam cedidas aos demais.

Bom. Daqui há pouco, Igrejas que vendem terrenos celestiais vão criar a lei de cotas do céu.

Ah não. Pelo menos no nosso caso não farão, pois acham que precisamos ser curados.

Esta, assim como todas as medidas assistencialistas que conheço, independente de qual minoria atendam, são criadas sob a justificativa de serem provisórias. No entanto, o que mais vejo nesse país é o provisório virar definitivo.

A lei de cotas no mercado de trabalho para pessoas com deficiência está aí desde que ainda era adolescente, sendo uma medida provisória.

Hoje, com meus 34 anos, ainda não vi nenhuma solução definitiva.

Enquanto isso, o que temos?

Pessoas com deficiência intelectual ou que sofreram de paralisia cerebral serem confundidas com loucas, trazendo com isso, entre outras consequências, a não contratação por empresas e também sua exclusão da sociedade em alguns casos, por não haver conscientização.

Também há, mesmo no século XXI, quem pense que cego traz consigo uma deficiência mental atrelada.

Quantos já conheci que agem como se tivessem tal deficiência com base nessa suposta verdade?

Enquanto isso, muitos idosos no Brasil continuam passando por situações deploráveis?

Por acaso assistiram à reportagem do Fantástico domingo sobre isso? Procurem lá por essa reportagem do dia 13/01/2013.

Vejam os casos não só de maus tratos, como a discriminação que alguns idosos lúcidos tachados de incapazes passam.

Infelizmente, vivemos ainda num país onde esmola é confundida com dignidade.

E o pior:

Muitas das vezes, as atitudes que excluem são tomadas por quem diz defender, lutar pela causa.

Semana passada, li os projetos do cantor e apresentador Netinho... Sim. Ele mesmo..... Aquele que sempre disse lutar pela inclusão dos negros na sociedade.

Vi que grande parte de seus projetos atuais, são na verdade, excludentes, pois baseiam-se, se vermos bem, na criação de guetos e não na inclusão.

A TV exclusiva para conteúdo negro é um deles. Veja bem... Exclusiva........ Inclusão com algo para conteúdo exclusivo? Não entendo isso.

E quando não queremos esmola e sim dignidade e inclusão? O que fazer?

Infelizmente a solução aparente é sermos individualistas.

Isso porque a maior parte de tais grupos não conseguem ainda ver o prejuízo que tais supostos benefícios trazem para a coletividade e para que se mantenha a falsa imagem da sociedade.

Enquanto isso não muda, nos resta travarmos batalhas individuais para conseguirmos nosso espaço e sermos, pelo menos encarados como exceções à regra.

Infelizmente é o que nosso país nos obriga a fazer.

Inclusão realmente como um todo e soluções definitivas? Não gostaria de perder as esperanças, mas vejo ser difícil. Isso não dá votos nem fama.

E qual seria a solução então?

Bom. Como o jeito é sermos individualistas para conseguirmos algo realmente benéfico, assim será com a solução.

A minha, é ficar uns dias sem ler jornal. É o melhor que faço.

3 comentários:

Edna disse...

André, ando pensando muito no que falou no texto. Tudo o que é feito no sentido de incluir acaba sendo excludente, no sentido de que é feito para o grupo em questão. Mesmo o que é feito pensado na pessoa especial, esbarra na incapacidade de se colocar no lugar do indivíduo, como vimos na são silvestre desse ano e o acidente com o cadeirante. Um trajeto pensado para a competição de cadeirantes que no entanto não oferecia a segurança necessária. Concordo que tem muita coisa pra ser feita e pra mudar, acho que o caminho é a participação, no sentido de que todo excluido tenha voz, só mesmo sabendo de cada um as dificuldades que enfrentam é que se pode pensar em inclusão. Legal, muito boa a sua reflexão! Abraço...

Alexandre disse...

Fala André,
Certa vez ouvi uma frase, inclusive da diretora de RH daqui do banco, de que é nec3ssário se tratar diferente para dar oportunidades iguais.
Concordo com o comentário acima que diz que temos de ter voz, afinal as minhas necessidades não são iguais as suas e vice-versa.
Ao mesmo tempo, por vivermos em uma sociedade protecionista ainda temos casos em que, por deinfomação ou mesmo nosso "jeitinho" pessoas com deficiencia são excluídas daeducação, do mercado detrabalho, do convivio social.
Imagine voce um cego que infelizmente viveu "preso" em casa durante boa parte da sua infancia e adolescencia, entrando totalmente despreparado para a vida adulta. Como ele vai ganhar uma primeira oportunidade sem a lei de quotas? Que alias diga-se de passagem mesmo com ela nos dificulta muito a entrada ja que temos de competir de igual cm pessoas que não tem um pedaço do dedo, ou que tem 70% da visão de um dos olhos, requerindo menos adaptação por parte da empresa.
Estamos longe de ser um pais exemplo, mas tambem temos 1500 anos de atraso em relação aos demais paises da Europa já que para muitas de nossas tribos indigenas o bebe deficiente era morto ou abandonado na floresta.
É fazer oque voce esta fazendo, relatar a desprovação e fazer com que o maior número de pessoas saiba do ocorrido, equem sabe um dia alguem não tome uma providencia?

Abraços

André Carioca disse...

Alexandre.

Primeiramente quero agradecer pelos comentários aqui postados por você, sempre dando, mesmo nos casos de discordância, oportunidade para troca de conhecimentos e um debate sadio.

Você citou a situação de um cego preso dentro de casa, devido ao protecionismo.

Questionou também que se não fosse a lei de cotas, como esta pessoa teria uma oportunidade?

Aí você chegou exatamente ao mesmo ponto que eu.

que oportunidade?

Um cego nessas condições, também nã é lá tão benificiado por tal lei.

Imagine uma empresa que já tem uma imagem distorcida do que é a pessoa cega.

Uma pessoa nesta situação, sem preparo é a primeira contratada por ela.

Neste caso, duas coisas acontecerão.

1. Este cego nunca terá a chance de evoluir e se desenvolver.

2. Outros cegos também ficarão na mesma situação que ele se contratados por tal empresa, até que um possa realmente ter a oportunidade de mudar esta imagem.

Perceba que, a lei de cotas é totalmente ineficaz e um dos motivos, é a falta de conscientização. Não existe um programa sério ainda nesse sentido.

Com conscientização ela é totalmente desnecessária.

Até poderia ponderar que ela exista ou existisse até que as empresas tivessem a conscientização para que tal medida não fosse mais necessária. Aliás esse era o discurso quando ela foi criada.

Só que, nada é feito e o provisório está se tornando definitivo. Essa é a questão.

quanto à questão do acesso à educação, chegamos em um outro ponto.

Conscientização da família.

Jamais será possível que uma criança tenha acesso à educação e, no futuro uma formação sem conscientizar a família de que aquela criança é capaz, para que a mesma possa cobrar isso desde cedo.

Se a família não insentivar, cobrar, depois de adulto não dá mais pra correr atrás do prejuízo.

Conscientização é o caminho, mas não tem sido atualmente, interessante.