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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Direito Ou Imposição?

Faaaaaaaaala galera!

Venho aqui levantar uma questão interessante. Pelo menos ao meu ver, é interessante.

Olha só. Já viram como vai ser o assunto né? O que se pode esperar de um assunto que é interessante de acordo com a visão de um cego. Kkkkkkkkkkkk.

Nesse fim de semana, nos momentos em que estive sóbrio, estive pensando sobre direitos atribuídos a nós, que acabam virando imposições.

Sim. Vocês estão me achando maluco agora. Direito que vira imposição? Como assim? Devagar eu explico.

O primeiro exemplo é a lei que nos dá direito a assentos reservados em transporte público, estendendo-se inclusive aos idosos.

Sabemos que realmente, dependendo das condições, as pessoas com alguma deficiência e alguns idosos, necessitam realmente de tal direito, por não conseguirem se manter de pé.

Como no Brasil é normal o não entendimento da aplicabilidade de leis, a galera não pode ver um cego que quer fazê-lo sentar. Kkkk. Lembram que Geraldo Magela já falou muito disso?

Se analisarmos pelo bom senso, a atitude correta seria não aceitar quando uma pessoa, ao entrarmos no coletivo, queira se levantar para  ceder o lugar. Mas, e a pessoa? Afinal ela fez isso querendo ajudar.

Justo não é, pois no nosso caso podemos estar na mesma situação da pessoa. Voltando do trabalho cansados, ou, sei lá. Por questões de justiça, o direito ao lugar é da pessoa, por ter sentado antes. Mas....

O que fazer nessa situação?

Já presenciei idosos sendo indelicados por causa disso, dizendo que o estavam diminuindo. Não vejo por aí... Aliás não vejo por lugar nenhum..... kkkkk.

Bom ser indelicado com certeza não é a solução.

Então, qual seria?

Algumas pessoas, mesmo quando você tenta delicadamente mostrar não haver necessidade, e pede para que ela ali continue, fazem questão.

Aí não tem jeito. Acabaríamos por fazer desfeita à pessoa.

Entramos num conflito entre o bom senso baseado em nosso ponto de vista e consciência da pessoa.

Aceitar o lugar acaba sendo o mais fácil. Não o ideal, mas.....

Alguém sugere outra atitude? Rs.

Nesse caso há apenas uma questão de bom senso e conflito de pensamentos. Porém, uma variante dessa situação pode causar constrangimento. Para mim causa.

Vou confessar uma coisa aqui....

Sou bem resolvido quanto à questão de ser cego, mas o que descreverei abaixo é algo com o qual não consigo lidar muito bem.

Entramos numa condução lotada, quando, independente de quem seja. Passageiro de metrô ou ônibus, cobrador ou motorista.... Putz...  Ainda bem que os condutores de trem e metrô estão impossibilitados de ter tal atitude. Rs. Em fim.... Vamos lá.

É quando eu entro numa condução lotada e alguém diz:

“Arruma um lugar pra ele”.

Aí independe de termo utilizado, ou o que seja.

Tá. A pessoa fez com a melhor das intenções. Só quis ajudar... Mas, e eu?

Sim. Fico constrangido... Me sinto mal e só consigo começar a me recuperar quando saio daquele ambiente, leia-se condução.

Beleza. Se algum de vocês que está lendo isso achar frescura, é um direito que lhes assiste. Mas, me sinto mal e é fato.

E imagina quando isso acontece logo no início do dia, quando estou indo para o trabalho.

Não consegui ainda uma forma de lidar com isso.

Nem sei definir exatamente a sensação. Não. Talvez uma mistura de constrangimento com ofensa, ou, sei lá.

Aliás eu sei lá quantas vezes já escrevi sei lá nessa postagem. Kkkkkkkk.

Outro direito que as vezes vira imposição:

Gratuidade no transporte público.

Lá no Rio, algumas linhas de transporte são formadas apenas por micro ônibus. Porra micro ônibus tem hífen ou não? Sei lá.... em fim.... Colocaram esses ônibus pequenos lá. Kkkk.

Tais ônibus não tem banco na frente.

No período de implantação, , quem tinha o bilhete especial, o que na ocasião não era meu caso, passava no validador.

As vezes, precisava usar uma específica linha dessas. Isso já faz tempo. Era na época que dava aula particular de Informática para o cara que hoje, é meu amigo cego velho e gordo. Kkkkkk.

Como eu faria nessa situação? Óbvio!

Pagar a passagem.

Primeira experiência.

Entro no ônibus com o dinheiro na mão para pagar e o motorista reclama.

Segundo ele, seria complicado eu ir de graça porque não teria banco na frente e também, eu não poderia pagar porque tenho direito de ir gratuitamente. Kkkkkk. Gente.... Eu juro. Kkkkkk.

Aquilo começou a me irritar. Primeiro que com aquele gordo parado na porta, vulgo eu, ninguém mais entraria.

Segundo, porque tinha bancos vazios na condução.
Já estava no horário e não poderia mais perder tempo. Aí então tive uma ideia:

Jogar o dinheiro no colo dele e pular a catraca... Pronto. Nem eu, nem ele. Kkkkkkk.

Será que consegui o meio termo? Kkkkkkkk.

É. Hoje eu teria muito mais dificuldade em pular a catraca. Mas naquela época, com uns KG a menos, foi possível.

O que me fez acelerar e tentar buscar o mais rápido possível o tal bilhete pastel de feira.... Ou melhor.... bilhete especial.....kkkkk. foi uma situação constrangedora no mesmo sentido.

Entro com o dinheiro na mão e, quando vou pagar a passagem alguém fala: Já tá paga. Não precisa. E a catraca já liberada, sem que eu conseguisse argumentar.

Só pude abaixar a cabeça e fiquei assim durante toda a viagem.

Estava indo prestar um serviço. Não precisava daquilo. Mas.

Certamente, quem entrou no ônibus posteriormente, ao me ver cabisbaixo, deve ter associado aquilo ao fato de ser cego.

Afinal, as pessoas cegas tem apenas 3 possibilidades na opinião da sociedade.

Se reclama de algo,  é revoltado.

Se faz algo absolutamente normal como qualquer pessoa, é superdotado.

Se não está legal por algum motivo, é coitado.

E provavelmente naquela viagem eu fui o coitado. Primeiro porque o cara pagou minha passagem. Segundo pela situação em que eu fiquei depois do episódio, em fim.... rsrss.

Acabei por pegar o bilhete para não passar por esse constrangimento. Na época era bem mais novo. Não sei se hoje faria isso.

Agora que grande parte das situações onde pagava a passagem naquele ônibus causava polêmica, causava.

O motorista dizendo que eu não podia porque eu tinha direito mesmo não tendo banco na frente, os passageiros achando absurdo e questionando como permitiram que eu fizesse isso...... sempre tinha um barraco. Kkkk.

Agora uma outra situação que chega a ser engraçada.

Uma das linhas que faz Bangu centro da cidade é considerada linha pastel de feira.... Ou melhor: linha especial. Kkkkkk.

Os ônibus tem ar condicionado, são mais confortáveis e pelo tipo de linha, a empresa não é obrigadas a fornecer gratuidade se não tiver pelo menos uma determinada quantidade na frota.

Quando fazia algum bico pelo centro da cidade, já calculava também o valor da passagem em tal ônibus.

Afinal, imaginem só. Verão, sol forte no Rio, etc.

Seria normal uma pessoa querer pagar uma passagem em tal ônibus, que no Rio a gente chamava de frescão, para ter uma viagem mais confortável.

Lógico. Repassava o valor de transporte ao cliente. Rs.

Na época a passagem não era lá tão cara. Era tipo 1 real a mais ou no máximo 2, da passagem comum.
Nas primeiras vezes que viajei em tal ônibus, acho que parecia um ET. Kkkkkkk.

Ou, quando eu entrava o motorista, antes de dizer qualquer bom dia ou boa tarde, já falava: “Amigo.... Esse não tem gratuidade.”.

Tudo bem. Eu já sabia, mas não ia ser indelicado.

Até que quando o ônibus ia encostar e me sinalizavam, comecei a já deixar o dinheiro separado, tirar do bolso no momento e entrar com ele na mão.

Ou acontecia outra coisa:

Algum cidadão, quando o motorista abria a porta e eu tentava fazer o óbvio, ou seja, entrar, me puxava e dizia! Não! Nesse você paga! Kkkk. Aiaiiiiiiiii que [oóóódio!

To ali esperando o ônibus, peço para que alguém sinalize, rezo para ele chegar logo e para não pegar muito trânsito e assim não me atrasar e, quando finalmente o ônibus chega, algum cidadão não quer me deixar entrar. Kkkkkkkkk.

Era um pensamento no mínimo estranho.

Eu tinha direito a ir de graça no ônibus convencional, mas não tinha direito de pagar para viajar no frescão. Kkkkk. Não consigo ver lógica nisso.

Aliás, segredo. Eu não consigo ver é nada em lugar nenhum. Kkkk.

Já com relação ao tal passe interestadual, pelo menos na hora que você vai comprar passagem a pessoa só pergunta se é passe e se disser que não, sem questionamentos.

Aliás passe interestadual... Nada contra quem utiliza.

Eu não tenho e não utilizo.

Acho o seguinte:

Se tenho condições de viajar, pago a passagem e vou.

Se não tenho, não vou. Afinal, não é assim com todo mundo?

Repito: Respeito quem pensa diferente.

Já utilizei sim, quando era mais novo e não tinha o entendimento o qual me fez formar a opinião que tenho hoje.

E outra: nem me enquadro mais no grupo de pessoas que teriam direito ao “benefício”. Se você é cego e configurou seu leitor de telas para não ler pontuação, coloquei benefício entre aspas.

Por falar nisso, já que querem oferecer tal gratuidade, deveriam fiscalizar melhor. Tem muita gente aí com o passe, mesmo sem obedecer aos critérios necessários.

O nível de comprovação exigida é o mínimo. Tem bastante gente burlando isso. Gente que além de não obedecer aos critérios, teoricamente não precisaria.

Do jeito que estava até pouco tempo, qualquer pessoa com paciência em ler o regulamento preenchia o formulário com as informações suficientes para ser aprovado e, não tinha nenhuma comprovação exigida.

Espero que tenha mudado.

Então.... se a renda familiar precisa ser, por exemplo, inferior ou igual a 1 salário mínimo por pessoa, deveriam exigir comprovação da mesma.

O número de pessoas que vivem na casa, critério mais utilizado pelas pessoas que tentam burlar, deveria ser constatada no ato do pedido e, na pior das hipóteses, cruzar as informações prestadas com as do censo.

Bom. Existe um ditado que diz: “nada se cria. Tudo se copia.”

Aqui no Brasil alteraram só um pouquinho. É o jeitinho brasileiro. O ditado fica:

“Tudo que se cria, não se fiscaliza”.

Aí as pessoas se utilizam do jeitinho brasileiro.

Não estou aqui criticando apenas quem burla o direito do passe livre, nem as pessoas com deficiência apenas, pois o ato de querer tirar proveito e levar vantagem é inerente ao povo brasileiro.

Depois, querem reclamar dos políticos, se esquecendo de onde os mesmos vieram. Rs.

Agora com licença que vou ali vestir minha armadura.

Não sei porque, mas tenho o pressentimento que, depois dessa postagem, lá vem porrada. Kkkkkkkkk.



3 comentários:

MT Flávio Correia disse...

Fantástico!!!!
Me sinto tal como você em todas estas situações onde os direitos que nos são concebidos se tornam deveres a serem rigorosamente cumpridos.
A sociedade brasileira precisa de um profundo amadurecimento de seus conceitos e idais em relação as pessoas com deficiência, em particular com deficientes visuais...

Rodrigo Parreiras disse...

Em relação ao lugar eu não discuto, pois como sabemos, há uma lei que obriga a ter a reserva deste lugar. Sendo assim, apesar de saber que consigo me equilibrar perfeitamente, eu acabo aceitando, pois caso aconteça algum imprevisto e eu venha a cair, motorista e trocador serão responsabilizados se eu estiver em pé.

Noentanto, o que me deixa chateado é o fato destes lugares serem reservados apenas na parte dianteira do ônibos. Vejam bem, não tenho nada contra os idosos, aliás espero me tornar um um dia. Ocorre que como todo rapaz de 25 anos de idade que se preze, me agrada muito conhecer garotas da minha idade, para trocar idéia, e o ônibos é um lugar bacana para tal pretenção, visto que lá ficamos por um tempo razoável. E este direito me é retirado pelo fato dos lugares serem reservados apenas na parte da frente!

Sou impedido de talvez, quem sabe, conhecer a gata que habita meus sonhos! k k k k k k k k k k k

Aqueles que por ventura achem irrelevante o fato de um jovem cego querer aproveitar o ônibos para ter a chance de conhecer garotas, lembrem-se que com esta atitude, nada mais há do que uma segregação social! Pessoas com deficiência e idosos de um lado da roleta, e pessoas ditas normais do outro! É claro que como tudo nesta vida não devemos generalizar, há pessoas com deficiência e idosos que realmente precisam ir sentados, cada caso é um caso e cabe a cada um conhecer suas limitações!

André Carioca disse...

Rodrigo. Você acabou de me fazer atentar para um outro fato interessantíssimo.

Segundo a lei, caso você caia por algum imprevisto, motorista e cobrador seriam responsabilizados.

Veio uma outra questão:

E se uma outra pessoa sem qualquer deficiência cair? Quem se responsabiliza?

Sem dúvida, a empresa deveria se responsabilizar por qualquer acidente no interior do veículo, já que por falta de investimento por parte das mesas, encontramos conduções com a capacidade acima de sua lotação máxima circulando por aí.

No entanto me parece que se uma pessoa sem deficiência cair dentro de um ônibus, ninguém se responsabiliza e no nosso caso, cobrador e motorista o são.

Percebe como a sociedade nos coloca numa condição na qual não podemos nos responsabilizar por nós?

Repito. Nesse caso, independente de deficiência ou não, a empresa deveria se responsabilizar, já que até mesmo quem enxerga normalmente corre o risco de de se desequilibrar e cair.