O que você acha da minha ideia de indicar algum som que curto em cada postagem do Cotidiano Cego?

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Verdadeira inclusão. Quem luta por isso?

Faaaaaaaaala galera!

Estou de volta após novo feriado e pra variar, cerveja. rs.

E entre uma gelada e outra, estava eu com uns amigos num debate super interessante.

Aliás não chegou a ser bem um debate, porque todos chegamos à mesma conclusão.

destes amigos, um era cego e outros 2, convivem com pessoas cegas. rs.

Um destes que convive conosco, comentou que um professor da faculdade de Educação Física que ele faz, quase o reprovou porque ele foi falar de inclusão.

durante um questionamento onde ele perguntava: Você fala isso mas e no momento de dar aula pra uma pessoa cega? Uma pessoa com deficiência física.

A resposta do cara foi uma que normalmente se escuta por aí:

"O Brasil não está preparado para a inclusão".

Na boa.

É muito fácil falar que o país não está preparado quando você mesmo não tá a fim de mover uma palha e não quer colaborar para que o tal preparo venha.

Agora vamos ao ponto crucial onde os 2 cegos ficamos há um bom tempo.

Sobre a verdadeira inclusão.

existem vários fatores que impedem a verdadeira inclusão.

Um deles, é o fato de que, a informação que a sociedade tem sobre o cego é bem menor do que a existente sobre o surdo, o tetraplégico, ou seja o que for.

dou exemplos:

Acessibilidade:

certamente você já viu muitas calçadas com guia rebaixada, banheiros adaptados os quais eu tenho uma puta dificuldade de usar pela minha altura e os desinformados tendem a me conduzir para os banheiros adaptados, já que na cabeça deles foram feitos pra isso. Não sabem sequer pra quem eles foram adaptados. kkkk. O cego gordo e alto se ferra todo pra usar um desses.

Sim. Tudo isso vocês já viram e, evidentemente, eu não. kkkk.

Proponho abaixo o seguinte exercício:

Você, que está agora lendo este post, responda as seguintes perguntas:

1. quantas esquinas com cemáforo sonoro você já viu?

2. Quantos elevadores que falam o andar onde pararam e sua devida situação, ou seja: Se está subindo ou descendo, você encontrou por aí?

certamente, se anda nos shoppings de são Paulo, já os viu. Mas, fora deles?
3. quantos, destes mesmos elevadores, tem sinalização em braille nos botões. Tá. Num prédio no qual vamos sempre, até decoramos a disposição. Mas, fora isso...

Meu amigo também cego, contou sobre a experiência que ele e a esposa tiveram no Canadá.

Lá, ao contrário do Brasil, tudo é sinalizado e ninguém passa a mão na sua cabeça, disse ele.
existem plataformas no metrô onde param trens indo para diversos lugares. em cada parada, é anunciado para onde aquele metrô que encostou vai.

ônibus, mesma coisa. Quando páram, existe um aviso sonoro de qual é o ônibus.

cemáforos sonoros em todas as esquinas e, quando ele perguntou a uma pessoa se tinha muito cego por lá, teve a seguinte resposta: Vocês são os primeiros que eu vi.... Beleza... E eles nem viram o cara. kkkkk.

Então. Acessibilidade lá não é feita porque um cego passa por um determinado local. É padrão em todo lugar.

Agora teve duas atitudes que ele contou... Nossa, achei muito legal!

No aeroporto.

A pessoa que ia ajudar, no caso funcionário da companhia, perguntou:

como é a sua mala?

Ah, tem um nome, de tal cor e tem umas fitas.

O cara respondeu de pronto:

Você tá de sacanagem comigo? Todas as malas são assim. Tem etiquetas, nome e fitas e da cor mensionada tem um monte.

Como eu vou achar sua mala?

Da próxima vez, tira foto da tua bagagem. Facilita pra mim. kkkkkkkkkkk.

Boa...... Nota 10 pro atendente. kkkkkk.

e vou te falar.... Se sou eu, tudo bem que não veria a mala, mas não agiria muito diferente. kkkkkk.

e a outra foi quando chegaram numa loja pra fazer compras.

Pediram ajuda e logo veio uma atendente auxiliá-los.

na hora de chegar no caixa e pagar, a atendente parou, observou e disse:

É. Vocês tem condições de ficar em pé. Vamos para a fila..

Boa! Palmas pra essa atendente!

chega dessa história como no Brasil que o ceguinho tem que furar fila, tem prioridade e tal. Prioridade em fila é, como a atendente canadense disse, pra quem não pode, ou tem dificuldade para ficar em pé.

Amigo. Você por acaso tem nome, e-mail ou qualquer coisa dessa atendente pra eu mandar os parabéns?

Falamos do primeiro mundo. Agora, voltemos ao brasil.

O segundo complicador para que a verdadeira inclusão seja implementada são certas entidades que "lutam pela inclusão dos cegos".

Notem que eu coloquei o lutam pela inclusão dos cegos entre aspas.

Que inclusão será obtida com a visão de que todo cego deve ser tutelado?

Bom eu disse que nem todo cego tem coragem de falar isso. rsrsrs.

E essa tutela, ocorre de várias formas.

citarei algumas abaixo.

Tutela literária.

Nós da instituição A, produzimos livros em braille, para a inclusão literária do cego. Assim, os cegos tem o acesso à leitura e cultura.

Já nós, da instituição B, gravamos livros em cD. Antes era em fita K7 e basta o cego ter um cadastro e terá o empréstimo do livro, sem custo algum..

Discursos muito bonitos, certo?

Que inclusão tem nisso?

a instituição A faz uma parceria com uma editora pedindo autorização para que certo livro seja publicado em braille, no intuito de atender às necessidades do ceguinho.

detalhe: A autorização foi pedida porque a instituição achou importante que o cego leia aquele título.

Já a instituição b, gravou aquele livro talvez com o mesmo procedimento, porque alguém leu e achou interessante.

gente. Acoooooordaaaaaaaaaaaaa!

Inclusão vai acontecer quando o cego puder chegar numa livraria, comprar o livro que deseja ler e tenha possibilidade de fazê-lo.

veja bem...... Disse comprar, como qualquer pessoa.

Inclusão teremos no dia que, o cego que prefira ler esse livro em braille, possa ter uma impressora braille por um custo acessível, possibilitando a impressão na sua própria casa do livro que ele comprou, pagou e scanneou.

Inclusão teremos, quando os tablets tiverem um preço acessível no Brasil, possibilitando que não só o cego como qualquer pessoa, possa acessar a Internet, comprar seu livro, revista ou jornal no seu dispositivo e possa ler.

Ou até mesmo, quando as editoras possam vender seus livros em braille, logicamente cobrando por eles.

Quando as editoras, passem a vender livros digitais como já é feito lá fora, possibilitando leitura no computador ou em outros dispositivos.

Aí sim teremos inclusão.

Pegar uma revista veja, gravar e enviar ao cego quase um mês ou pelo mínimo com uma semana de atrazo partindo da publicação será mesmo inclusão?

Bom. Será que a própria editora da revista não poderia ser insentivada a ter essa iniciativa?

Será que antes de se ter esse trabalho se viu a possibilidade da própria editora criar o produto e comercializar, já que nem todo cego tem condições de assinar e ler pela Internet, como é do meu costume por exemplo?

Ah tá. comercializar o produto.... Onde ficaria a tutela do cego?

com certeza, a resposta que teríamos para esta pergunta seria:

"Atualmente, agimos assim porque é a única alternativa."

Mas sinceramente, sonho com uma resposta para a pergunta que não me cala e até hoje ninguém me respondeu:

Quais são os projetos existentes para mudar essa situação?

O que está sendo feito para que possamos conseguir a verdadeira inclusão?

Sei lá. fico meio em dúvida até que ponto querem realmente mudar.

Inclusão cinematográfica.

Hoje, se fala muito em áudio descrição.

Recurso utilizado nos cinemas onde as cenas visuais e sem diálogos são descritas e o cego, poderá ouvir através de um fone de ouvido.

Respeito muito o recurso.

Mas jamais posso aceitar um vídeo ao qual assisti ontem, tentando passar a falsa imagem de que se um cego não tiver o recurso em um cinema, nada entenderá no filme.

Sim. Cada pessoa é diferente por si.

Talvez, algumas pessoas utilizem quando eu não necessite ou vice-versa.

Acho o recurso importante sim, mas daí a vendê-lo como sendo a única solução, desculpa! não posso concordar.

se querem difundir realmente o recurso, vamos então, insentivar para que na produção do filme, a áudio descrição seja gravada já em estúdio e todas as salas de cinema estejam fazendo a transmissão em um canal de áudio separado, possibilitando ao cego, caso necessite utilizar, possa sintonizar essa frequência curta de canal no seu próprio receptor de rádio, já que todo cego anda com um por menor que seja.

Existe tecnologia pra isso. Ou você nunca viu aqueles microfones de brinquedo onde você o sintoniza por F M?

Assim, você teria o cego na mesma sala de cinema que todos os demais, podendo escolher se quer utilizar o recurso ou não.

Tudo bem. No meu caso, já fui ao cinema até sozinho e não tive dificuldade para entender o filme.

Só que, logicamente, as pessoas tem suas diferenças e há quem necessite do recurso. Mas se é assim, vamos estudar uma forma para que elas tenham esse acesso em salas de cinemas normais.

E não, como se enche a boca para divulgar.

Tal sala de cinema promoverá um evento com áudio descrição.

Parece que causa mais impacto dizer que existe um evento com áudio descrição.

Será?

tudo bem..... Atitude louvável, divulgado o trabalho de quem luta e consegue tornar a áudio descrição possível. Nada mais justo.

Mas será isso inclusão? Pelo menos no meu ponto de vista, não.

deixo bem claro que não desmereço o trabalho, como já citei acima, de quem luta para tornar o recurso disponível.

só acho que, além de não ser conduzido da forma correta, não é admissível, num país onde já temos tanta desinformação com relação ao cego, passar essa imagem errônea de que um cego jamais entenderia um filme se a audio descrição não estivesse lá. Até porque, além de existirem outras alternativas, apenas para alguns isso será verdade.

Um comentário:

Anônimo disse...

ENTENDO SEU PONTO DE VISTA, APESAR DE NÃO CONCORDAR..

QUERIA TE PERGUNTAR UMA COISA... É VERDADE QUE PESSOAS CEGAS IDENTIFICAM AS OUTRAS PELO CHEIRO?